Em seu conto "A Ilha Desconhecida", José Saramago faz um tratado filosófico muito descontraído acerca das coisas que se conhece, das que se pretende conhecer, das que são desconhecidas e das que são passíveis de conhecimento. Logo nas primeiras páginas debate-se o personagem principal com o rei, e este, dando-lhe resposta, como que se livrando do homem, dá-lhe um cartão de visita, "onde, debaixo do nome do Rei, lê-se: Rei".
Interessante como tantas vezes o sujeito se define por seu cartão! Toma-se então a coisa pela representação da coisa, ao invés da coisa em si -- lembrando, aliás, que rei tem em sua origem o vocábulo "res", isto é, a "coisa".
Aliás, mais interessante, ainda, a estrutura burocrática do reino -- a porta das petições, a porta dos obséquios e a porta das decisões são três importantes lugares pelos quais temos acesso à percepção de uma organização política que remonta as últimas descobertas ao tempo das caravelas (pela visão de Saramago, não a minha).
Excelente leitura, que deve, aliás, ser lida várias vezes, para perceber a simplicidade e profundidade da reflexão em inegavelmente talentoso escritor.
Por isso é o primeiro a constar na lista de Literatura que hoje começo a atualizar.
Recomendo para todas as idades -- pois para todas terá, com certeza, uma bela mensagem a entregar.
Hesitei tanto em escrever esta descrição, dedo em "shift" para escrever a primeira palavra, que o computador perguntou se queria ativar as teclas de filtro. Falta a minha, de inteligência, que justifica este título sem maior pretensão.
Aqui o leitor encontrará algo de Direito e algo de Psicologia; eventualmente, impressões relativamente poéticas da vida.
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
O Visitante
Em meu trabalho sou extremamente afortunado.
Todos os dias, um passarinho, cuja raça não consegui identificar ainda -- e ele não me deixa fotografar: foge sempre que tento pegar a câmera -- pousa à minha janela e assovia. Duas, três vezes.
Fica a, talvez, um metro de distância de mim. Olha, com seus pequenos olhinhos, dá uma chacoalhada nas penas, assobia; às vezes insiste.
Depois, vai embora.
Certamente mora por perto.
Tento imitá-lo, como a chamá-lo de volta; quando ele está de bom humor, atende ao chamado. Mas nada de me deixar fotografá-lo.
Tem talvez o tamanho de um canário; pouco maior. Penas cinza-azuladas; mais azuis, de um azul-claro, nas asas e próximo às laterais do abdômen; cinzentas no restante, claras; o peito é talvez de um cinza mais claro ainda, e a cabecinha tem um tom um pouco mais escuro que não chega ao chumbo.
Presenteia-me e não me deixa esquecer que existem coisas que não precisam de explicação, mas convidam à apreciação pura e simples de uma beleza que não exige nada em troca além da admiração em si mesma.
sábado, 7 de fevereiro de 2009
Das Profundezas
Esta característica está presente na minha vida de maneira marcante: na casa onde moro a maior parte do ano, na Região Metropolitana de Curitiba, próximo à Serra do Mar (pelo lado de cima); e na casa de praia, cujos fundos olham para as montanhas da Serra do Mar, pelo lado de baixo, de onde posso ver também densa vegetação, pela janela, verde e flores das espécies da Mata Atlântica no lado mais quente do litoral paranaense.
Quando olho para esta imensidão de verde, imediatamente me vêm idéias sobre a pequenez do ser humano e a imensidão das coisas da Criação, e ao mesmo tempo em que reflito sobre a vastidão da minha ignorância, também penso nas profundezas da psique.
Quando então vêm a mim os pensamentos sobre as descobertas psíquicas, das quais mal chegamos nas margens do oceano enorme que permeia o saber sobre si, surgem imagens do que, na medida do possível, se relaciona ao mais distante que pode ser visto -- que aliás é tão pouco.
Essa imagem abaixo, dos anéis de Saturno, tirada há poucos dias pela Sonda Cassini em órbita de Saturno e seus satélites a alguns bilhões de quilômetros de distância da Terra, é uma alegoria um tanto fraca do que me ocorre quando, abismado, olho para o verde, penso na minha pequenez e me sinto -- nesse aspecto, na infinitesimal pequenez -- parte da humanidade.