terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Vida Pública e Vida Privada

Ilton Norberto Robl Filho nos fala a respeito da "Condição Humana" de Hannah Arendt como base para seu discurso em seu livro "Direito, Intimidade e Vida Privada" (ed. Juruá. v. Bibliografia abaixo).
Em seu texto, nos informa o autor, entre outras coisas, sobre aquilo que (na Antiguidade Clássica Grega, segundo a visão de Arendt) torna o homem, em primeiro lugar, humano, e, a seguir, imortal.
Para discorrer a respeito, primeiro faz uma distinção entre eternidade e imortalidade: a primeira, envolvendo uma transcendência -- entre outras coisas, algo além da vida.
Já a imortalidade implica em uma comparação aos deuses gregos e à natureza, imortais em si mesmos, em meio aos quais vive o ser humano mortal. Nesse contexto, atingir a imortalidade é fazê-lo em vida, através da vida pública e não da vida privada.
De fato, a vida privada, com seus fatos que não fazem parte do que é público e de todos conhecido, não participa, em geral, da noção de imortalidade.
Ninguém conhece um "imortal" (também por isso assim chamado) da Academia Brasileira de Letras pelo modo como lê um jornal, ou por aquilo que consome no café da manhã. Se isso ocorre, é uma curiosidade, algo à margem da parte pública -- esta tornada imortal pelo discurso do humano, que foi, aliás, reconhecido pelo emprego da linguagem.
Em consequência, é através da vida pública (porém não de qualquer publicidade) que o ser se torna sucessivamente humano (assim reconhecido por seu discurso em meio a outrem) e imortal (pois reconheceu-se nele algo digno de ser propagado através dos tempos).
Assim, tornar-se um indivíduo publicamente conhecido implica em, primeiramente, ter seu discurso prosperando entre os outros -- encontrar ouvido e eco nas almas que compartilham da mesma humanidade.
Tornar-se, porém, imortal, implica em algo cada vez mais difícil nos dias atuais: é ser capaz de, além de tornar-se público, conhecido e reconhecido como humano, também ser capaz de contribuir para que todos possam avançar rumo à própria humanidade, e, em termos psicológicos, rumo à própria individuação.