segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Em seu conto "A Ilha Desconhecida", José Saramago faz um tratado filosófico muito descontraído acerca das coisas que se conhece, das que se pretende conhecer, das que são desconhecidas e das que são passíveis de conhecimento. Logo nas primeiras páginas debate-se o personagem principal com o rei, e este, dando-lhe resposta, como que se livrando do homem, dá-lhe um cartão de visita, "onde, debaixo do nome do Rei, lê-se: Rei".
Interessante como tantas vezes o sujeito se define por seu cartão! Toma-se então a coisa pela representação da coisa, ao invés da coisa em si -- lembrando, aliás, que rei tem em sua origem o vocábulo "res", isto é, a "coisa".
Aliás, mais interessante, ainda, a estrutura burocrática do reino -- a porta das petições, a porta dos obséquios e a porta das decisões são três importantes lugares pelos quais temos acesso à percepção de uma organização política que remonta as últimas descobertas ao tempo das caravelas (pela visão de Saramago, não a minha).
Excelente leitura, que deve, aliás, ser lida várias vezes, para perceber a simplicidade e profundidade da reflexão em inegavelmente talentoso escritor.
Por isso é o primeiro a constar na lista de Literatura que hoje começo a atualizar.
Recomendo para todas as idades -- pois para todas terá, com certeza, uma bela mensagem a entregar.

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